Sinopse: Quando Ruth Saunders recebeu o telefonema de uma rede de televisão dizendo que sua série original seria levada ao ar, ela quase não acreditou.
Embora tivesse passado a vida escrevendo, não pensava seriamente que seu roteiro (autobiográfico!) sobre uma mulher jovem, com excesso de peso, que vivia com a avó, e que decidira se mudar para Miami para fazer fortuna, pudesse ser realmente interessante para alguém.
Tudo o que ela queria era ver sua série entre os comentários do público e das revistas especializadas, mas Ruth foi acordada bem depressa de seu sonho...
Atores de cabeça vazia e ego inflado, e burocratas da emissora transformaram seu roteiro para atender a múltiplos interesses...
Todo o esquema criado para se colocar uma série no ar é, ironicamente, narrado por Jennifer Weiner, ela mesma uma veterana da TV. As esperanças de Ruth são sistematicamente frustradas: os acionistas da rede insistem em uma revisão sem sentido, sua personagem principal, uma mulher cheia de curvas, passa a ser quase anoréxica, e a avó, Nana, de mulher madura e sofisticada passa a uma ninfomaníaca da terceira idade.
Divirta-se com a escrita espirituosa e cativante de Jennifer Weiner e sua deliciosa capacidade de fazer valer, em cada um de seus livros, os sentimentos de todas as mulheres. (Skoob)
WEINER, Jennifer. Dias Melhores Virão. Ribeirão Preto, SP: Novo Conceito Editora, 2014. 400 p.
Ruth Saunders, após muita ansiedade, finalmente recebeu a ligação que tanto esperara: sua série seria filmada por uma rede de TV e iria ao ar. Vencer em Hollywood não era mesmo fácil, ainda que como escritora, especialmente para uma mulher que tinha marcas no rosto - e na alma - desde o acidente que matou seus pais, quando ainda era criança.
Essa pequena vitória, contudo, estava longe de significar vencer a guerra, e Ruth ainda teria de lutar muito se quisesse construir sua história como no roteiro que escreveu e buscar sua própria felicidade. Pelo menos, contava com a ajuda de sua avó, que a criara e apoiara acima de tudo, e dos Daves, seus antigos chefes que se tornaram amigos.
"Já que eu não podia ser bonitinha, como as outras garotas, decidi que podia ser valente, como um garoto ou como um super-herói, impressionando os estranhos não com minha beleza, mas pelo quanto eu podia aguentar." (p. 33)
Quando tenho de escolher um próximo livro a ser lido, não consigo seguir muitas regras. Geralmente escolho o primeiro que vem à minha frente, por impulso mesmo, o que muitas vezes já me rendeu ótimas surpresas. No entanto, Dias Melhores Virão, de Jennifer Weiner, nem chegou perto de ser surpreendente, tendo sido necessário um enorme esforço para classifica-lo como bom.
Ruth é uma mulher sofrida e com diversas inseguranças em razão das marcas que traz no corpo. Apesar das muitas faltas que teve na vida, ela cresceu com todo o amor que sua avó poderia lhe dar, o que é muito bem ilustrado no livro e um dos detalhes que tende a agradar. No entanto, a vida de Ruth, no início do enredo, mesmo que já inserida neste contexto hollywoodiano, é narrada de forma bastante rotineira, quase chata. E é a partir da ligação que toda a história da protagonista é narrada, o antes e o depois, como ela chegou até ali e quais as consequências de seu piloto ter sido escolhido.
Com este desenvolvimento da trama, que tem foco principal no presente, mas é entremeado por passagens da vida da protagonista, indo e voltando sem seguir regras temporais, o envolvimento com a personagem aumenta um pouco. Conseguimos compreender suas angústias, seus medos, sua personalidade. Esse descobrimento se dá de forma lenta, ainda que a ingenuidade e a falta de atitude da protagonista não contribuam para uma aproximação integral.
"Havia sofrimento e havia alegria, e talvez, simplesmente talvez,no meio dos escombros do que eu pensei que mais queria, ainda houvesse uma oportunidade para que eu agarrasse um pouco de felicidade, arrancasse a vitória das mandíbulas da derrota." (p. 340)
Depois da metade do livro, algumas coisas ficam mais agradáveis. Um romance, singelo e inesperado, diferente e bonito, por exemplo, faz o coração se aquecer e o interesse aumentar. Uma tomada de posição da personagem também ajuda. E a avó de Ruth, como já comentei, tão elegante e amorosa que certamente fará alguns leitores lembrar suas próprias avós.
Um dos pontos mais interessantes de toda a história, sem quaisquer dúvidas, é o fato de ela abordar o mundo dos filmes e das séries por trás das telas; o livro mostra as intrigas e jogos de poder, a influência, o auge e a decadência de autores, atores e atrizes, de diretores. Mostra a grande briga para chegar lá e para manter a posição, o risco de se envolver com alguém que só quer se aproximar por interesse, bem como vários outros aspectos desse mundo que não vemos.
De forma mais simples, o livro não teve grandes momentos e não traz a comédia que prometia. Contudo, o final, mesmo um pouco imprevisível, lembrou o de uma comédia romântica e salvou boa parte do enredo, dando o toque leve, divertido e gostoso que, infelizmente, não estava por todo o livro.