Sinopse: Na verdade, as coisas não vão embora. Elas se transformam em algo diferente. Em algo mais bonito
Quando alguém que você ama morre, as pessoas perguntam como você está, mas não querem saber de verdade. Elas buscam a afirmação de que você está bem, de que vocêaprecia a preocupação delas, de que a vida continua. Em segredo, elas se perguntam quando a obrigação de perguntar terminará (depois de três meses, por sinal. Escrito ou não escrito, é esse o tempo que as pessoas levam para esquecer algo que você jamais esquecerá).
As pessoas não querem saber que você jamais comerá bolo de aniversário de novo porque não quer apagar o sabor mágico de cobertura nos lábios beijados por ele. Que você acorda todos os dias se perguntando por que você está viva e ele não. Que na primeira tarde de suas férias de verdade você se senta diante do mar, o rosto quente sob o sol, desejando que ele lhe dê um sinal de que está tudo bem. (Skoob)
OCKLER, Sarah. Vinte garotos no verão. Ribeirão Preto, SP: Novo Conceito Editora, 2014. 288 p.
"Aconteceu o impossível, e foi belo. Então, tudo terminou antes mesmo de começar, não deixando nada para trás além se segredos e corações partidos." (p. 263)
Dentre todos os lançamentos enviados pela Editora Novo Conceito, Vinte garotos no verão foi, de cara, o que me encantou. A cor da capa, o coração de vidros do mar com a textura mais brilhante e os comentários que começaram a pipocar nos blogs sobre o livro tiveram grande influência, mas tudo isso foi apenas alguns dos fatores que agregaram ao fato de a história ser tão boa.
Narrado em primeira pessoa a partir do ponto de vista de Anna, não há como saber o que se passa com os outros personagens senão pelas percepções da protagonista. Particularmente, não senti falta de maiores informações. O livro de Sarah Ockler narra apenas um mês da amizade - de uma vida toda - entre Anna, Frankie e Matt antes da morte deste último, mas a autora conseguiu colocar tanta intensidade nas poucas páginas que escreveu sobre isso que o envolvimento com a história - e as primeiras lágrimas nos olhos - aparece logo nos primeiros capítulos.
O enredo mostra que é a partir da morte de Matt que a história realmente tem início: é o primeiro verão sem ele, na casa onde ele costumava sempre passar suas férias, e a dor e a dúvida não deixam Anna e Frankie, porque seguir sem Matt parece ser o deixar ir.
"Ele adorava ler. Ele adorava palavras, a forma como elas se reúnem em frases e histórias. E queria estudá-las, conhecê-las, criá-las, compartilhá-las com o mundo. [...] Lia com intensidade e se apaixonava por todos os personagens, pela reviravolta na história ou pela linguagem utilizada. Fazia os personagens ganharem vida para nós, como se não estivesse lendo um livro de ficção, e sim contando histórias sobre os próprios amigos." (p. 164)
Anna está naquela fase da adolescência na qual ainda não encontrou o seu lugar. Sabe que não é mais criança, tampouco pode ser considerada mulher. Porém, em vez de ser aquele tipo de protagonista irritante sem qualquer autoestima ou, ainda, que quer ser diferente para se reafirmar, ela apenas é. É claro que ela ainda tem suas dúvidas e suas inseguranças, ou não seria adolescente, mas Ockler conseguiu colocar isso de maneira inteiramente natural.
A partir dessas características verdadeiras, a autora conseguiu, também, fazer com que o leitor partilhe dos sentimentos da protagonista: o encantamento com Matt, a dor advinda de sua perda, a falta de confiança para viver sem e o medo de esquecer dele, a dúvida e o peso de cumprir uma promessa.
Vinte garotos no verão não é apenas a história de duas amigas que querem aproveitar o que a vida tem para oferecer, mas a histórias de duas amigas que têm de aproveitar por saber que tudo o que a vida dá, ela pode retirar. É uma história que trata da construção de sonhos por sobre outros destruídos, da necessidade de seguir em frente, do amor que simplesmente existe e está lá. Trata de amizade e de esperança, trata de crescer e se descobrir.
É um livro lindo, com uma mensagem intensa e leve ao mesmo tempo, cheio de conflitos, cheio de tristezas e alegrias, cheio de vida.